Dhobi Ghat é um dos poucos lugares do mundo em que os sentimentos e emoções emergem em um ritmo tão complexo que merece ser mostrado para todos. Dhobi Ghat é uma área murada, pobre, onde as pessoas vivem e trabalham em um compasso insano, lavando e secando para os hotéis, restaurantes e marcas mais luxuosas de Mumbai. Eles se esforçam para servir uma realidade que nunca será a deles. Eles não existem além do muro; dentro, eles sobrevivem. É assim que floresce um sentimento tão forte de comunidade dentro das fronteiras de Dhobi Ghat.
A concepção do projeto Dhobi Ghat Undisclosed teve como objetivo retratar o cotidiano das famílias dhobi. O que desejávamos era construir uma experiência de imersão que despertasse o sentido de presença nas pessoas que nunca estiveram lá. Utilizamos a tecnologia de vídeo 360º para fazer a captura de imagem e as tecnologias Web para a sua publicação.
O roteiro do projeto foi desenvolvido com inspiração no modo de documentário observativo, proposto pelo teórico Bill Nichols. De acordo com o autor, esse tipo de documentário é aquele em que “olhamos para dentro da vida no momento em que ela é vivida. Os atores sociais interagem uns com os outros, ignorando os cineastas”, ou seja, busca capturar a realidade tal qual ela é — ou aquela que aparenta aos nossos sentidos. Para isso, devemos evitar qualquer manipulação e interferência no momento da captura dos vídeos, perseguindo a naturalidade da situação como se a câmera não estivesse presente.
Quando definimos o tema, sabíamos que esse conteúdo seria especial para as pessoas que nunca haviam colocado os pés naquele ambiente, que não conheciam nem de longe a realidade de uma casta inferior na Índia. A próxima etapa do projeto é investigar critérios de experiência do usuário nessas plataformas, coletando evidências sobre o que foi bom e o que não funcionou do jeito esperado, para que possamos, então, melhorar ainda mais os projetos de vídeo 360º e realidade virtual como a grande máquina de emoções e empatia.
Os vídeos 360 devem ter duração mais longas do que o formato tradicional. Deve-se evitar cenas curtas e jump cut. A audiência deverá ter um tempo adequado para explorar a cena para se envolver com a narrativa. Em nossas experiências optamos por uma montagem com cenas de 30 segundos de duração.
Os vídeos 360 devem proporcionar uma transição suave e fluida entre as cenas. Deve-se evitar o corte seco entre as cenas para que a audiência não sofra com vertigem e desorientação espacial. Em nossas experiências optamos por uma edição com fade in e fade ou na transição entre as cenas.
Ao capturar a imagem, deve-se evitar movimentos bruscos com a câmera. No caso de vídeo 360, principalmente se assistido por meio de equipamentos de realidade virtual, a audiência poderá sentir vertigem se a câmera se movimentar pela cena. Em nosso projeto, optamos por deixar a câmera fixa em um tripé capturando as imagens ao seu redor. Também pode-se utilizar um slider de baixa velocidade.
A qualidade da imagem é um fator principal no quesito de imersão, mas também um dos desafios na transmissão de conteúdos na Web. Em nosso projeto, nós usamos uma imagem com uma resolução de 4k no momento da captura, o que traz uma qualidade mínima para um projeto que utilize video 360.
Este projeto foi executado pelo Centro de Estudos sobre Tecnologias Web (Ceweb.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e apoiado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
Agradecimentos à Keio University por receber os pesquisadores Diogo Cortiz e Newton Calegari no laboratório da Keio Media Design, em Tóquio, Japão; aos colaboradores dos projetos Clappr e Kaleidoscope por contribuírem com ferramentas open source para vídeos na Web; à PUC-SP pelo apoio na execução da pesquisa e pelo fornecimento de equipamentos.